sexta-feira, 10 de abril de 2009

Ao Imigrante - payada

don Arabí Rodrigues

O tempo acordou a voz
do Imigrante Alemão
que viu a transformação,
da pátria mãe, ao algoz;
por andar a esmo e a sós,
rumou ao sul, sem destino,
mar aberto, sol a pino,
a fibra, a força, a coragem,
por fim a bela paisagem
do velho pago menino.

Abordo do Protetor
da Alemanha a Porto Alegre,
cansado, já quase entregue,
pela fome, a sede, o rigor,
vislumbrou a mata em flor,
no espelho do Guaíba.
Aonde até hoje, estriba
a lembrança da chegada.
A São Leopoldo, a morada,
meio dia, rio arriba.

Em vinte e quatro de julho,
aportou no cais aberto
e ao ver o longe mais perto,
da consciência e do orgulho,
ouviu do mato, o barulho
da natureza intocada;
a sinfonia orquestrada,
ao trino do mundo novo,
acordes, alma do povo
e o campo branco de geada.


Mil oitocentos e vinte e quatro,
velho rio Kururay.
Nosso pago era guri,
pés descalços, campo e mato,
algum rancho, lombo chato
de vara, barro e capim,
ternura de querubim,
paciência de noite calma.
Hoje, um desejo da alma,
ver um mundo, lindo assim.

Foi ali da Feitoria,
casa dos nobres de antanho,
que surgiu este rebanho,
que trouxe paz, harmonia:
a gaita, o chucrute, a chimia,
comércio, indústria, progresso,
nova luz, novo universo,
até no jeito de amar
e o sistema familiar
o alemão, refez num verso.

Depois da grei Farroupilha,
a conquista do território,
foi ordenança de Osório,
outra vez, pelas coxilhas,
desfez e fez armadilhas,
domando o pampa bravio
e num grande desafio,
desbravou o sopé da serra
e aquerenciou-se na terra,
trocando o nome do Rio...

Por fim, em honra da paz,
a Lomba grande Gaúcha,
Sociedade, que debuxa,
a tradição que compraz.
Graças o querer audaz,
deste valente alemão,
abriu cancha em nosso chão,
observando o Evangelho,
desde Canguçu Velho,
ao ser de nossa emoção...

Agora depois de tudo:
estrada, suor e peleias,
o sangue de nossas veias,
têm mescla deste abelhudo,
misturado ao do “beiçudo”,
temperou a nossa raça.
Bem dito o Dia da Graça,
do alemão, seus princípios,
que emancipou municípios
co’a nossa pátria na jaça...

Seguindo o rastro dos outros,
o Italiano, veio depois,
o negro, o alemão, estes dois,
já tinham domado os potros,
recolhidas, alvorotos,
logo após a criação,
do nosso pago, este chão,
de “payadas y contra-puntos”
são iguais nossos assuntos
ao falar de tradição


Nosso maior compromisso
é co’as luzes do Amor,
amigo, não faz favor,
apenas presta serviço
e talvez seja por isso,
que somos tão conhecidos,
respeitados e queridos,
por qualquer lugar que ande
e para que o tempo abrande,
a folga do meu encardo;
um gole de amargo,
sangue verde do Rio Grande...

Nh. casa do rio, março, 23//09

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