segunda-feira, 25 de maio de 2009

Abelha Mestra – payada
Arabí Rodrigues

Tupã, Alá, Aloin,
meu Deus gaúcho, São Pedro,
permitam do meu segredo,
invocar um querubim;
destes que cuidam de mim,
de ti e do nosso Rio Grande:
além da alma dos Andes,
co’a brancura de mãos limpas,
q’uesta prece chegue às grimpas
do Martin Fierro de Hernandez.

Não vê, que o povo gaúcho,
sempre forte e aguerrido:
resolveu, por decidido
mudar o nosso debuxo,
ante promessas, um luxo,
de brilho matiz aurora,
vento sul a campo fora;
deu carta e jogou de mão
e assim trocou um “zangão”,
por uma “abelha mestra” de fora.

“Las cosas” corriam lindas:
cordeona, festa, foguete;
surgiu então, um bilhete,
prenunciando tardes findas
“y lo mejor”, trazia ainda,
denuncias dalguns desmanchos.
Enquanto isto, nos ranchos,
o povo se perguntada,
em verdade quem mandava,
“abelha mestra”, ou o carancho?

Enquanto seguia a “engronha”,
a gaita velha roncava,
um, ou outro apresentava,
“os do Sem votos, os da Pamonha,
a do Campestre”, que vergonha,
“Placas Frias”, casa nova;
O baile virou uma trova,
“mi – maior- de – gavetão”.
Morre em Brasília, um irmão,
seus alfarrábios, são provas?

“Una cosa és una cosa”,
disse o cantor Uruguaio,
sempre lembro quando saio,
dos versos de Zitarroza.
Guardo o perfume da moça,
que nunca soube da festa,
viu de longe a nova orquestra,
o carancho pousar no poste.
Mesmo que agente não goste,
“ta” ajojado à abelha mestra...

Agora, quando em silêncio,
ouço ao longe a oito baixos,
co’a cantiga do Gaudêncio,
em honra ao Rio Grande macho.
Doravante, só despacho
de bombo, voz e guitarra.
A sombra que a estrada embarra,
“no lleva el corazón,
dice Fierro, una ocazion,
num de sus canto mas nobres:
no és vergueza ser pobre,
la vergueza és ser ladron”..

Nh. casa do rio, maio,20/09

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Qurubins da Raça Pampa -payada

Arabí Rodrigues
ao poeta Antônio Carlos de Alencastro

Kati, meu irmão querido,
parceiro de poesia,
por sermos da mesma cria,
somos do "garão torcido",
de mais a mais convencidos,
qu'o longe não nos atinge.
A saudade, a gente finge,
que foi embora pra sempre,
a cuia, a chaleira, a trempe,
a palha, o fumo, a solinge...

Um mate feito a capricho,
um pito feitio caseiro,
a baforada e o cheiro,
da china, o nosso cambicho,
depois do velho cochicho:
"to te esperando meu nego",
surge a resposta: já chego,
gostar de ti, é meu vício,
pro desafio do ofício,
vai ajeitando os pelegos.

Assim o tempo nos leva,
como tronco rio a "baixo".
Doze braças a bate cacho,
pro refugo dos malevas.
Quando a lua engole as trevas
no altar dos sentimentos,
eu chego na voz dos ventos,
qu surgem do paraíso,
pra vislumbrar teu sorriso,
co'as luzes do pensamento.

Podes crer, neste momento,
parado diante de mim,
consigo ver no sem fim,
o ser do teu firmamento.
À sombra de teu talento,
a minha musa se acampa,
reproduz a tua estampa;
à luz de campos em flores
teus versos, são meus amores
querubins da raça pampa.

Por fim um abraço largo,
repete e bate outra vez,
sempre co'a mesma altivez,
de quem cumpre o seu encargo.
Agora, mais um amargo,
desses que alargam ternura
e que adoçam a lonjura,
além dos meus universos.
Enquanto tu lê meus versos,
salgo outra cevadura!!!
Um grande abraço fraterno.

O Ser do Coração - payada

don Arabí Rodrigues

Meus irmãos de céu e terra,
litoral, campo e cidade,
estou faceiro, em verdade,
a musa subiu a serra,
justo, aonde Deus descerra,
a luz por entre a ramagem.
Por esta impura paragem,
sigo o rumo do sem fim,
buscando dentro de mim
o motivo pra mensagem.

Quando reparto a linguagem,
pra desenhar o que tenho,
adejo o chão, donde venho,
sobre as flores, da paisagem.
Entre o medo e a coragem,
prefiro a voz da razão.
Não sei por que a emoção,
nos aflige e atrapalha,
e quando livre se espalha
por dentro do coração.

Quando o sim, quer dizer não,
a vida segue outro rumo,
por isso não acostumo,
co’essa tal evolução,
leva um taura de roldão,
sem pergunta e nem resposta.
Até mesmo uma proposta
de compra, ou venda de gado,
tem que ter muito cuidado
co’a facada pelas costas...

Assim mesmo quando “enrosca”,
palavra e fio de bigode,
o mais forte se sacode,
e o outro que tire a “cosca”.
No bolicho da “Marosca”,
não se vende canha fiado,
um sistema do finado,
uma lição do Florêncio.
O barulho do silêncio,
faz o meu mundo calado.

Nh. casa do rio, outubro, 30/07

Cultural e Campeiro - payada

Arabí Rodrigues
honor La Bacaria de los Pinãles

Meus irmãos de honra e fé,
querer de pátria, consciência;
este amor pela querência,
vem da fibra de Sepé.
O primeiro a calçar o pé
em defesa desta Terra;
litoral, campanha, serra,
centro, missões, capital,
no mesmo cocho de sal,
o Amor que Deus descerra.

Luis e Maguida, patrões
do Porteira do Rio Grande;
pra qu’a saudade se abrande,
ante o ser das emoções,
valho-me aqui de Camões:
“cessa tudo que a musa canta,
quando um poder maior se levanta”;
à borda dos corações...

Assim sendo, estou de volta,
chapéu e pena na mão,
pra fazer uma oração,
vê se a saudade me solta.
Depois, fazer a recolta,
tendo o Ângelo na guitarra.
A sombra, qu’a estrada embarra,
“no lleva el corazon;
dice Fierro, una ocazion:
uno de los canto mas nobres
no és vergueza ser pobre,
la vergueza és ser ladron”...

Ante tanta fidalguia,
do Roberto, do Peruquim,
o Nilso, o Jorge, bem assim
do jeito da Vacaria,
uma eterna poesia
campo, mangueira, galpão,
bufido de redomão,
berro, guincho, manotaço
e as doze braças do laço,
pra garantir o tirão...

Na cuia do mate amargo,
o sangue verde do povo;
esperança dum mundo novo,
co’a alma do pampa largo.
Devo ao Senhor, meu encargo
de ser um sonho acordado;
meu mundo foi preparado,
no sem fim do universo,
um Irmão a cada verso,
entre "as romãs" ajoelhado...

Por fim, o agradecimento
ao gesto da patronagem,
que passou nova mensagem,
além dos Regulamentos.
Vale mais os sentimentos,
que a tal de burocracia.
Em nome da poesia,
tradição do nosso Estado:
ao Ângelo, muito obrigado
e mil gracias, VACARIA!!!
Nh. casa do rio, abril, 02/09
Um grande abraço fraterno

Mate de "Contra - Punto" - payada

don Arabí Rodrigues
homenagem ao poeta Nelson Ortácio

Irmão de fé e querer,
aqui estou novamente,
pr'um mate, que redepente,
um verso pode nascer,
daqueles, que sem dizer,
dá ode-casa e apeia
e "despacito" boleia,
uma rima limpa e pura,
em honra a nossa cultura
depois, se abanca e mateia.

Me agrada, quando mateamos,
"hablar de cosas estrañas,
los regalos de campaña,
que a lo largo veneramos".
Nesta quadra aonde estamos;
qualquer assunto, é assunto,
mormente se tiver junto
o nosso Deus das respostas,
até o diabo "vira as costas",
pr'um mate de "contra-punto".

Os pensamentos vagueiam
no topete da consciência,
trazendo a voz da querência,
quando as guitarras clareiam;
bordoneios que semeiam,
rufar de patas, arrancadas
tropel de cascos, patriadas,
sunir de laço e chilenas
e o sorriso das morenas
no peitoril das ramadas.

É lindo, sentir nas veias
o sangue verde,esta seiva,
aflora por sobre a leiva
como trava de maneia.
Enquanto, a cuia passeia,
entre uma e outra prosa,
"o cheiro da cancorosa",
faz recordar o momento,
que somou o sentimento
ao ser dalguma mimosa.

Em fim, a vida é um planalto,
cheio de pedras e espinhos.
As flores, são os caminhos,
que Deus nos mostra do alto.
Ante outro sobre salto,
à luz do mundo moderno
prefiro a cor do inverno,
sempre vestido de paz.
A vida por ser fugaz,
compraz o Amor eterno.

Um Brinde co'as duas Mãos - payada

don Arabí Rodrigues
em honra ao amigo Junior
Bombinhas- SC.

Meu caro Junior, um abraço
do tamanho do Rio Grande,
co’a voz de Jose Hernandez,
andando à sombra do passo.
Em cada verso que faço,
o garbo das pradarias,
“alumbra” a tarde dos dias,
que desconto da vaidade,
pra ser sincero, em verdade,
devo agora admitir,
mesmo antes de sair,
“tava” sentindo saudade...

Saudade da convivência,
o aconchego dos Irmãos,
um brinde co’as duas mãos,
com ternura e reverência,
que faz lembrar a querência,
em dia de marcação;
guitarra, voz e canção,
que arrebatam e que dá ciúmes;
em fim, os nossos costumes,
entre o Perequê e Bombas,
lembrando noites de rondas
ante o altar dos perfumes.

Me agrada, quando o parceiro
volteia, como pr’um pealo,
espora e bico de galo,
velho patuá do tropeiro;
no “causo” dum entreveiro,
sabe chegar e sair.
Quem sabe pr’onde ir,
não precisa perguntar,
antes do dia clarear,
já esta de pingo encilhado,
aba-larga bem tapeado
e mundo pra negociar.

Terra, casa, apartamento,
estância, prédio fazenda
e o riso dalguma prenda,
pra mermar o sentimento.
É lindo quem tem talento,
vontade, fibra e coragem,
até o verde da paisagem,
parece ser mais bonito.
A gente chega solito,
entre crentes e ateus,
cresce e vive, à luz de Deus,
pra descobrir no presente:
que somos contra-parentes,
por que tu és um dos meus...

Obrigado pela acolhida, “salu y suerte”
Nh. rancho do rio, março, 05/09

Pra Vida Inteira - payada

don Arabí Rodrigues
em honra ao amigo "Nego Quadros"
Radio Nativa FM 89.7 GASPAR-SC.

Nego Quadros, “con permiso,
com la bendicion de Dios,
ay estan delanteros,
lo mas viejo compromizo,
quien sabes, talvez porizo”,
estoy de cuerpo presente.
Alma limpa, nossa gente
de campo, serra e missões
e o querer bem dos galpões,
que nos uni no presente.

“Yo sei que muitos diran,
que peco de atrevimento
sy largo meo pensamento,
pa el rumbo que ya eleji,
pero sido siempre asi,
galopeador contra el viento”.
A muitos sobram talento,
a outros faltam emoção,
a mim sobra inspiração,
para expor o sentimento...

Por isso neste momento,
vista larga, campo aberto,
o longe, chega pra perto,
pela Internet, este invento.
Salgo nas alas del viento,
chevo lazo e boleadoras,
y lãs muzas criadoras,
de rimas, métrica y bersos,
traen de los mios universo,
sonido de tuya Emissora...

Salve “O Querência Nativa”,
Programa, mais q’um programa,
é a tradição, que nos chama,
ao pé da consciência viva,
é o céu da alma que estiva,
na vastidão das praderas,
son lãs pampas sien fronteras:
do viejo Jose Hernandez,
del Uruguai y Rio Grande,
bajo la misma bandera.
Ao largo da carretera,
que leva e traz encordadas,
termina numa payada,
que fica pra vida inteira...

Nh. casa do rio, marzo, 07/09

Mundo dos Arreios - payada

don Arabí Rodrigues
homenagem ao amigo José Augusto

José Augusto, meu caro,
recebi o teu recado
e deveras, emocionado,
à tua frente me paro.
Nosso mundo é meio raro,
comparado ao mundo novo,
consciência, casca de ovo,
palavra e fio de bigode
e o saber do que não pode,
mãos limpas, alma do povo.

Nosso desejo sulino
de paz, amor, liberdade,
herdamos na tenra idade,
do nosso ancestral menino”;
depois, o Poder divino,
que tudo sabe e tudo vê,
alcançou-nos o porquê:
sermos de campo e mangueira
e o escudo da bandeira,
do querido CTG.

Além da pilcha completa,
o poncho, a faca e o mango,
este gosto por fandando,
prenda bonita e discreta,
cantiga, quando o poeta
é dos bons e respeitado
e o gaiteiro, no teclado,
retrata o campo na sala,
como quem engole a fala
no lombo dum aporreado.

Nos somos do tempo antigo,
da legenda dos gaudérios,
palmeadores de hemisférios,
que não refuga ao perigo.
Me agrada, quando um amigo,
desses “buenos”, que nem tu;
bem montado, a “Capitu”,
troteia mascando o freio,
como quem para um rodeio
nos campos Canguçu.

Agora pro arremate,
um convite pro amigo:
se quiser vir ter comigo,
“se chegue” pra mais um mate;
antes que o tempo desate,
a saudade do convívio.
Não esqueça, que o alívio
dum amigo por inteiro
é saber que o companheiro:
de honra, fibra e coragem
é o motivo da mensagem
por nosso Deus verdadeiro...

Nh.casa do rio, março. 20/09

Ao Imigrante - payada

don Arabí Rodrigues

O tempo acordou a voz
do Imigrante Alemão
que viu a transformação,
da pátria mãe, ao algoz;
por andar a esmo e a sós,
rumou ao sul, sem destino,
mar aberto, sol a pino,
a fibra, a força, a coragem,
por fim a bela paisagem
do velho pago menino.

Abordo do Protetor
da Alemanha a Porto Alegre,
cansado, já quase entregue,
pela fome, a sede, o rigor,
vislumbrou a mata em flor,
no espelho do Guaíba.
Aonde até hoje, estriba
a lembrança da chegada.
A São Leopoldo, a morada,
meio dia, rio arriba.

Em vinte e quatro de julho,
aportou no cais aberto
e ao ver o longe mais perto,
da consciência e do orgulho,
ouviu do mato, o barulho
da natureza intocada;
a sinfonia orquestrada,
ao trino do mundo novo,
acordes, alma do povo
e o campo branco de geada.


Mil oitocentos e vinte e quatro,
velho rio Kururay.
Nosso pago era guri,
pés descalços, campo e mato,
algum rancho, lombo chato
de vara, barro e capim,
ternura de querubim,
paciência de noite calma.
Hoje, um desejo da alma,
ver um mundo, lindo assim.

Foi ali da Feitoria,
casa dos nobres de antanho,
que surgiu este rebanho,
que trouxe paz, harmonia:
a gaita, o chucrute, a chimia,
comércio, indústria, progresso,
nova luz, novo universo,
até no jeito de amar
e o sistema familiar
o alemão, refez num verso.

Depois da grei Farroupilha,
a conquista do território,
foi ordenança de Osório,
outra vez, pelas coxilhas,
desfez e fez armadilhas,
domando o pampa bravio
e num grande desafio,
desbravou o sopé da serra
e aquerenciou-se na terra,
trocando o nome do Rio...

Por fim, em honra da paz,
a Lomba grande Gaúcha,
Sociedade, que debuxa,
a tradição que compraz.
Graças o querer audaz,
deste valente alemão,
abriu cancha em nosso chão,
observando o Evangelho,
desde Canguçu Velho,
ao ser de nossa emoção...

Agora depois de tudo:
estrada, suor e peleias,
o sangue de nossas veias,
têm mescla deste abelhudo,
misturado ao do “beiçudo”,
temperou a nossa raça.
Bem dito o Dia da Graça,
do alemão, seus princípios,
que emancipou municípios
co’a nossa pátria na jaça...

Seguindo o rastro dos outros,
o Italiano, veio depois,
o negro, o alemão, estes dois,
já tinham domado os potros,
recolhidas, alvorotos,
logo após a criação,
do nosso pago, este chão,
de “payadas y contra-puntos”
são iguais nossos assuntos
ao falar de tradição


Nosso maior compromisso
é co’as luzes do Amor,
amigo, não faz favor,
apenas presta serviço
e talvez seja por isso,
que somos tão conhecidos,
respeitados e queridos,
por qualquer lugar que ande
e para que o tempo abrande,
a folga do meu encardo;
um gole de amargo,
sangue verde do Rio Grande...

Nh. casa do rio, março, 23//09

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Concerto no Campestre

egunda-feira, 22 de setembro de 2008
Falcatrua em versos
Mestre na arte dos versos, o poeta Arabi Rodrigues preparou uma pajada sobre as falcatruas envolvendo a Lei de Incentivo à Cultura. O título é sugestivo: "Concerto no Campestre".

Patrão do ser infinito,
olhas teus filhos na terra
litoral,campanha, serra,
planalto, sempre bem dito:
nosso pago está aflito,
diante do desmazelo.
Nossa cultura dum pêlo,
foi transformada em negócio,
os vendilhões já têm sócio,
“perro”, relho e sinuelo.

Vem daí o cotovelo,
que tira a gente do páreo.
Cada projeto, um calvário,
puxão de orelha, cabelo,
pra justificar o zelo,
“a mocinha” do extrato,
apareceu no retrato,
que Grizotte publicou,
e por pouco não apanhou,
“só por causo” dum contrato.

O tal de filme, “uma piada”,
é como lidar co’a raiva”
o livro e o extrato na gaiva,
aonde as notas são guardadas,
as legitimas e as clonadas,
que dão origem a despesa.
Descoberta a safadeza,
quem queria aparecer,
agora, só quer esconder
a escuridão “da nobreza”.

Por sorte, temos certeza:
a moça não está sozinha,
um dos sócios, co’a ladainha;
se desmanchou em gentileza,
e, ao comissário, com firmeza,
soltou a língua e as notas.
É “brabo” trocar as botas,
bem no começo do baile,
quem não sabe ler em braile,
ensina orelhar a “sota”.

Se não fosse uma vergonha,
seria de dar risada.
A “mocinha” perfumada,
à sombra duma congonha,
nivelada aos da “pamonha”,
dos “Sem Voto” e do DETRAN
e que responder pro fã
sobre o concerto, o caminho,
com o nosso dinheiro,
pão dos pobres do amanhã...
Postado por Giovani Grizotti às 09h23

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

De Pprosa e Cantiga –payada

Arabí Rodrigues
homenagem a Walter Morais

Walter Morais, meu irmão:
de querer e de pendor,
teu canto, é o Rio Grande em flor,
na borda do coração;
além do cheiro de chão,
possui o gosto de pasto,
legenda rangendo basto,
sobre o lombo do cavalo,
espora e bico de galo,
sangue de pátria no rastro.

Quando ouço a tua voz,
“templada” como pra um pealo;
cada verso que embuçalo,
vejo a pampa de todos nós,
trazendo a consciência a foz,
dos sentimentos terrunhos,
o tempo serrando os punhos,
estrelas de pirilampos,
ziguezagueando nos campos,
trazem luz ao testemunho.

Daqui do lombo do cerro,
a onde nasci e me criei,
o dom, tem força de Lei,
mesmo vivendo o desterro.
O ganido desse “perro”,
parceiro dos desgarrados
faz relembrar descampados,
rufar de cascos, peleias
e o sangue nas nossas veias,
ao do índio misturados.

Agora pra arrematar,
um abraço bem cinchado,
para que fique guardado,
do lado esquerdo, este altar,
que diz tudo, sem falar
e tudo diz, sem dizer;
um amigo de bem querer,
é como a alma do povo
na seiva dum mate novo
água pura de beber.

Nh. casa do rio abril de 2008

"A Casa do sem Voto" payada

Arabí Rodrigues

Meus irmãos de corpo e alma,
de mate amargo e querência,
venho em nome da prudência,
que nos apraza e acalma.
O silêncio bate palma,
e o coração pede bis.
Volto à Praça da Matriz,
bandeja e pamonha prontas,
ao pessoal que confere as contas
que por discreto, é feliz...

Um diz que há desmazelo,
descontrole e nepotismo.
Outro diz, foi egoísmo,
açodamento, atropelo,
por não ser do mesmo pêlo,
dos que usam “placas discretas”;
por ciúmes, quase que embreta,
o que já estava no brete.
É a história que se repete,
quando “una cholita apreta”.

Sempre soube que o ciumento,
é corno por antecedência.
O que chamo de prudência,
é honra do Sentimento.
Confundir descaramento,
com segurança, descrição,
é como trocar um canhão,
por uma pistola vazia.
Placa fria é placa fria,
e não importa o patrão.

Essa empáfia de segredo,
é um disfarce conhecido;
pra manter bem escondido,
a luxuria do brinquedo.
O que dá certeza e medo,
são as denúncia que foram feitas
quem por certo, não aceita
o rabo de quem for pego,
nesse cabide de emprego,
sem voto, “vão pra direita”.

Quando penso na Arrancada,
dos heróis de Trinta e Cinco,
recordo o brio, o afinco,
luz de palavra empenhada
o rigor da cavalgada,
além da fome, o cansaço,
o desejo “templado” em aço,
sob o Pendão de três cores.
Onde estão estes valores,
se perderam no espaço?

A Pamonha do DETRAN - payada

Arabí Rodrigues

Meus irmãos de campo e cerra,
litoral, centro e missões:
em nome das tradições,
do povo de nossa terra,
ante à luz que Deus descerra
no para-peito do tempo;
cevo meu mate e contemplo,
gaúchos d’antigamente
e a honra de nossa gente,
nosso modelo de exemplo.

Entretanto, no momento,
por incrível que pareça
tem dado “dor de cabeça”,
o principal Sentimento.
Está sobrando talento
e está faltando vergonha.
A bandeja da pamonha,
foi à Praça da Matriz
e pra “regalo” dos guris,
a vivenda da cegonha.

A farra “empezo” la em cima,
na bailanta do palácio.
Quem diria que o prefácio,
serviria a minha rima;
tudo que afasta, aproxima,
todo que cala, consente.
Assistindo os “inocentes”,
depondo na CPIs:
me dei conta que “os guris”
“tavam” roubando nossa gente!

Após apresentação,
rapa-pé e ramalhete,
de pronto, vinha o joguete:
do não vi, do não sei não!
Os direitos de ladrão,
isso ai, eu não respondo,
sou “sério e não me escondo”.
Na maleta do “irmão”?
tinha os sêlos do Macalão,
e um mapa-múndi redondo.

Mas, o assunto é o DETRAN,
insiste o inquiridor.
Excelência, por favor,
não insista em “cosa” vã,
se por “acauso”, amanhã,
a justiça me chamar,
ai sim, eu vou falar,
tudo o que vi e o que sei
mas, dentro da nossa lei,
se abelha mestra deixar.

Um deboche, que de dá medo,
pela frieza que passa.
A honra da nossa raça,
encoberta pelo mosquedo,
com cheiro de vinho azedo,
cachorros de pêlo liso,
vivendo num paraíso,
com o dinheiro roubado,
dos cofres do nosso Estado.
Não pensem que sou conciso,
não digam, que sou conciso!!!

sábado, 9 de agosto de 2008

Aos Pais

Aos Pais - payada
Arabí Rodrigues

Senhor dos mundos, padrão
de saber, força e beleza;
permita que a natureza,
do verso dum pobre peão,
alcance o ser da razão,
amor que nos deu a vida,
“con la madre” dividida,
corpo, alma e coração.

Porquê será que o agosto,
prenuncio de primavera;
tira a consciência da espera,
clareando as cores do rosto.
O tempo, guardião do posto,
à porta do paraíso.
Depois do grande sorriso,
a víbora traz o desgosto.

Assim, a lenda é contada,
a maçã surgiu das trevas
e o Adão ouvindo a Eva,
já não ouvia mais nada,
o céu, a terra encantada,
água fresca, sombra boa.
Fez do cetro, uma coroa
nos botou nesta “roubada”.

Agora pra disfarçar,
gastamos nossos centavos;
“o crescei-vos e multiplicai-vos”,
faz um pai se desdobrar,
somente pra contentar,
quem escolhe o seu presente
co’a afirmação, novamente
é o senhor quem vai pagar.

Pai é uma luz divina,
que Deus repete na terra,
pelo amor que descera,
no ventre que descortina.
A vida moça menina,
o tempo velho monarca,
não importa pêlo ou marca,
tem que cumprir sua sina.

Como pai, já sou avô,
como qualquer outro velhinho,
cheio de “dengues”, carinho
que o Patão me reservou.
Em todo lugar que vou,
levo a luz da esperança
e um sorriso de criança
que o meu velho me legou!!!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O Nosso Deus Negro

Arabí Rodrigues
ao Dr. Amaury Leopoldino de Freitas

Um deus negro, como a noite,
quando a lua dorme cedo,
conhecedor do segredo,
do ser que chega ao apoite,
pra se livrar do açoite,
que se projeta disperso.
O perfume do meu verso,
reúne em torno de si,
um deus, que ensina sorri,
co'as luzes do universo.

Atende a voz do alheio,
como se fosse, um dos seus,
seguindo o rastro de Deus,
que perpassa o nosso meio.
Um deus, que guarda o anseio
na face de seu irmão.
Do ventre do coração,
brotam flores perfumadas,
com ares de gargalhadas,
ante o riso do perdão.

Um deus, que transforma a dor,
em caminho limpo e puro;
condão de ser o futuro,
aonde há voz de clamor.
Um paladino do amor
no sem fim do ser humano.
Vaqueano dos mais vaqueanos,
que a comparsa da consciência.
Altaneiro na prudência,
bondade de Soberano!

O coração de criança,
rebrilha acima da calma.
Do silêncio, a sua alma,
estende a mão da esperança,
Da humildade, vem a confiança,
que propaga de voz rouca.
No tom, que perfuma a boca
Esconde o conhecimento,
de quem sabe, que o som vento
apruma uma orelha mouca...

Na cor da África materna,
o calor de sol a pino.
Franqueza de rei sulino,
na sua missão fraterna.
Quem me dera a luz eterna,
pra definir o querer.
Eu faria, sem dizer,
um verso de pôr na praça,
somente pra render graças:
ao Médico, deus do saber!!!

Nh. casa do rio, julho, 24/08 -6.15h

domingo, 25 de maio de 2008

Arabi Rodrigues, poeta do pampa

Celso Pitol Filho

Otto Maria Carpeaux dizia que a cultura popular era algo importante demais para ficar nas mãos dos intelectuais. Essa bela amostra do refinado senso de humor do historiador austro-brasileiro é também um libelo contra a intromissão de certas teorias que tentam - ou tentavam, porque andam em desuso - explicar as coisas do povo dentro de linhas evolutivas e processos históricos, como se a arte - ou a música, ou a poesia - de origem popular fossem um mero estágio inicial de cultura à espera de desenvolvimento.

Essas teorias transformam o povo em mero joguete para seus ímpetos classificatórios e nos ensinam a desprezar Homero, o Antigo Testamento, as sagas islandesas, as odes anglo-saxônicas, o Martin Fierro, todos os cancioneiros nacionais e outros exemplares insuspeitos de clássicos oriundos da massa iletrada que o cânone letrado aceita. Tais criações seriam, no máximo, produtos de época, bons para figurar nas primeiras páginas da historiografia literária ocidental como documentos de um tempo bárbaro e rude já passado há muito e sem ressonâncias notáveis no presente. Assim o classificam - até porque classificar é algo muito próprio deles.

Felizmente, Arabi Rodrigues não se classifica. Quando perguntam a este grande payador gaúcho, nascido em Dom Pedrito e há muito tempo morador de Novo Hamburgo, na Grande Porto Alegre, se sua poesia é popular ou erudita, ele confessa que não sabe dizer. E não precisa mesmo. O homenageado na abertura da Feira do Livro, na última sexta-feira, em cerimônia realizada no Centro Cultural Érico Veríssimo - quando recebeu a medalha “Jayme Caetano Braun” do mérito gaúcho 2007″, conferida pela União Brasileira de Trovadores - , sabe muito bem que as classificações por gêneros não são estanques e, sobretudo, que elas são um trabalho a ser feito posteriormente. Não é tarefa do verdadeiro poeta definir-se a si próprio. Isso o faz a crítica.

Talvez o assunto peça outra pergunta. A poesia de Arabi - e vamos defini-la desta forma, mais justa do que o uso indiscriminado de adjetivos - bebe em quais fontes? O que ele leu e ouviu para escrever e cantar? Arabi aprendeu a fazer payadas com um negro uruguaio analfabeto que lhe ensinou a rigorosíssima métrica da poesia gauchesca. Por esse lado, é claramente popular. Ao mesmo tempo, venera Camões, Cervantes e toda a tradição literária ibérica - em sua biblioteca há um grosso volume antigo de poesia popular açoriana, outro do argentino Hilário Ascasubi, outro de poesia portuguesa e outro da espanhola - uma tradição , que, segundo ele, nenhum poeta que viva num espaço de confluência como o Rio Grande do Sul tem o direito de ignorar. Nesse sentido, a poesia de Arabi é bem popular, já que toda poesia verdadeiramente popular é tradicional. Os antigos aedos gregos sabiam épicos inteiros de cor e seguiam regras muito estritas ao declamá-los, sob pena de perderem o sagrado posto que ocupavam. O povo faz o mesmo com os poetas que subvertem as regras.

Até gênios como Whitman tentaram desesperadamente soar populares ao abolir a rima e a métrica, julgando abolir também o caráter aristocrático da poesia para devolvê-la ao povo - e fracassaram totalmente. Borges notou certa vez que os cantores do interior da Argentina tentavam compor no espanhol mais castiço que podiam e cuidavam escrupulosamente a rima, ainda que, no dia a dia, parecessem ignorar a conjugação de todos os verbos. Claro: tinham a poesia em alta conta e a tratavam como algo distinto, quase sagrado.

Araby pertence sobretudo a esta última tradição: a dos cantadores gauchescos. Sua matéria é o pampa, terra sem fronteiras que se estende por quatro países e reúne todas as raças que povoaram a América. E Arabi , como homem da fronteira, bilíngue e binacional, sente-se igualmente à vontade em Buenos Aires, Montevidéu, Artigas, Uruguaiana, Rio Grande ou Santiago Del Estero. Basta alguns minutos de conversa íntima com ele para ouvirmos que “no hay diferencia” entre os países do pampa, que tal poema ou autor é “muy lindo” e que sua poesia não pretende tomar o lugar de “nadie”, já que para todos “hay espacio”. A mistura sai livremente. Lembra a caracterização do uruguaio Julián Murguia em “Contos do País dos Gaúchos” daqueles homens falando uma mistura de português e espanhol, indo e vindo por cima de uma fronteira que não existia”.
Binacional é o poeta, e sua poesia também. Arabi é um representante brasileiro da payada, estilo não só pampeano como também andino e chaquenho, presente portanto em praticamente metade da América do Sul. Tanto é que ninguém sabe precisar se a origem da palavra é castelhana, portuguesa, guarani ou quíchua. O payador é primo do repentista e dos cantadores sertanejos e caipiras, acompanhado ou não de música. Payador foi o mítico Santos Vega e também Juan Nava e Gabino Ezeiza, todos argentinos, payador foi o germânico (com sangue indígena) Jayme Caetano Braun, payador foi o negro analfabeto e anônimo que ensinou Arabi a rimar, foi o basco Hilario Ascasubi, que o portenho Borges venerava - e Borges, autor de um livro de milongas e de muitos poemas de inspiração gauchesca, também tem algo de payador. Esse negro anônimo e tantos anônimos de todas as cores sentam à beira do mesmo fogo de chão à espera da vez para declamar. A payada é, como nenhum outro estilo, a música da América Latina por excelência, espaço onde se congregam, e sob vários títulos, as muitas linguagens e cores que compõem o mais colorido dos continentes.

Um espaço tão vasto e variado como este inspira, como poucos, a imaginação do poeta. A seguir, fragmentos de alguns poemas de Arabi Rodrigues, pequena parte de uma grande produção que já conta vários volumes. Os excertos são do livro “Marcas do Tempo”, publicado em 1997.


Da copa do cerro grande,

avô dos cerros de volta,

a vista ganhou distância

por entre as coxas de pedras,

por onde passa a sanguinha

que deságua no arroio.

No fim dos olhos compridos,

o dia chega cansado

no bivaque do poente

prádespir-se do motivo

do suor dos nossos dias,

mas uma réstia teimosa,

insiste em ser refletida

na prata das Tres Marias.

(Jarau)

“Ao passo lento dos dias,
As horas vão engolindo
A distância dos andantes,
Que buscam apenas um lume,
Sem pretensão de chegar.
Essa paciência arrastada
Que dilata os horizontes,
É só um pequeno trecho
Que a gente precisa andar”

(Caponete)

……………………

“Depois de chegar no topo
Da Cordilheira dos Andes,
a pampa surgia grande
Como promessa divina;
a libertade apontava
o vento mostrando o rumo
Para quem chegava de longe
Para fazer pátria no sul.
O verde e o céu azul
Se abraçavam na distância,
como miragem da infância
Que o tempo guarda no prumo”

(El Peon Arriero)

“Que tombo se não me agacho” -payada

Arabí Rodrigues

homenagem a Celso Pitol Filho


Celsinho, meu caro amigo,

aqui estou novamente,

chapéu tapeado na frente,

e um “buenas” do jeito antigo.

Resolvi, vir ter, contigo,

por querer ser que nem tu:

língua solta de chiru,

a prumo, como “bendito”.

Não nasci em Dom Pedrito,

sou cria de Canguçu.

Para ser claro e bem franco,

fiquei muito satisfeito.

Quem me dera ser aceito,

onde “espalhei os tamancos”,

num baile de negros e brancos,

de gente boa, e malevas.

Guri saindo das trevas

bisneto d’outro poeta,

um “jogue” de cancha reta,

do Cerro das Arumbevas.

Tava eu, entre o chircal,

que cobre os campos pedritense;

como bom Canguçuense,

ouvindo um “toque” bagual

e depois, de “cosa e tal”,

não resisti o chamado;

água de cheiro, pilchado,

coração no céu da alma,

e o desejo batendo palma,

me entrevei no “bailado”.


O gaiteiro, um castelhano,

vaqueno de mil farranchos,

mui conhecido nos ranchos,

das “chagas” e orelhanos.

Neste mundo dos vaqueanos,

o clarim, é a “oito baixo”,

sendo num “tango” despacho,

muitos passos, várias vezes.

Como disse Luiz Menezes:

“que tombo, se não me agacho”.


Agora que tu já sabes:

quem eu sou, de onde venho,

quando pintar meu desenho,

um direito que te cabes,

nem que o mundo desabe,

oferecendo perigo;

não arranca o meu umbigo,

do lugar onde nasci.

E finalmente, pra ti,

um abraço do amigo.

Nh. Casa do Rio, novembro, 05/07

Por Ser Poeta

Arabí Rodrigues

Homenagem ao Dr. Moacir Rodrigues

Meu IIrmão de querer bem,

aqui estou, alma aberta,

a saudade quando aperta,

nos maneia e faz refém;

arranca o que a gente tem,

lá bem do fundo da alma,

o silêncio bate palma,

o coração tironeia,

e até a trava da meneia,

laceia pedindo calma.

Quem sabe, por ser poeta,

consigas ver à distância,

e ante tal circunstância,

traçar dum ponto, uma reta,

a onde ausências se aquieta,

fazendo a gente sofrer.

Como é difícil dizer

ao um amigo de verdade,

só pra matar a saudade,

que bom seria te ver!

Depois da ultima promessa,

cheguei pensar por mais velho,

as lições do Evangelho

nos ensinam, não ter pressa.

Talvez, por isso a conversa,

macia como soiteira,

tenha deixado na poeira

algo, que não entendi.

Esta cisma de guri,

que não deixou a fronteira.

Por fim, uma confissão:

dessas de arrepiar o pêlo.

O mundo por desmazelo,

judia um pobre cristão.

Assim sendo meu irmão,

o tempo não se distrai.

Quem canta, o amor atrai,

pelo fator querer bem.

Ouço Diego: “Netinho vem

e tu dizendo: Netinho vai”...

Nh. casa do rio, dezembro, 06/07

Cruza de Sangue

Cruza de Sangue - payada

Arabí Rodrigues

homenagem ao Dr. Nilton Tavares

Nilton Tavares, meu primo

irmão, por parte de pai,

cruza de sangue que vai,

além do verso que rimo,

a quem respeito e estimo,

co’a força que a alma tem.

Bem dito seja o além,

pela família Rodrigues,

co’a mesma pinta dos tigres,

que só, um Rodrigues tem.

Por um lado, somos carinho

e pelo o outro amoroso.

Pelo meu lado, o “Mimoso”,

pelo teu, o “Simãozinho”;

de contra peso o “Zezinho”,

um querer bem de “nosotros”.

co’a liberdade dos potros,

estrada, estudo, sentença,

não ha china que nos vença,

mesmo de pêlo revolto...

Sou grato por relembrar

na “charla” por telefone:

certa feita, pelo nome

fui chamado, pra cantar,

de pronto, sem perguntar

se alguém queria me ouvir,

soltei a voz, sem pedir,

silêncio, calma, atenção.

A payada, é uma oração,

que mostra o nosso sentir.

Agora que o mundo sabe,

que somos irmãos de sangue,

demos um viva ao Rio Grande,

pela parte que nos cabe,

mesmo que o tempo desabe,

sobre a copa do chapéu,

meu verso será um te-deum,

sem retoque e nem reparo,

ao meu pai e o tio Amaro,

hoje mateando no céu.

Nh. casa do rio agosto 29/07

um abraço

Arabí

sábado, 10 de maio de 2008

MÃE

Mãe
Arabí Rodrigues

Mãe:
a deusa, que Deus aprova,
pelos caminhos da terra,
é o amor que se renova,
no ventre que tudo encerra.
Mãe:
é a luz que o céu descerra,
à frete de todos nós.
A emoção chegando à foz
nas cores do paraíso,
entre lágrimas e sorrisos,
a vida assumindo a voz.

Mãe:
um desejo profundo,
alento de bem me quer,
lenitivo deste mundo
beleza feitio mulher.
Mãe:
querer, dum ser que requer,
dedicação e ternura;
do Criador, a criatura
guarda no ceio, florindo,
a voz dum silêncio lindo,
à mão de nossa figura.

Mãe:
beleza de flor madura,
sobre o altar dos perfumes,
pedra angular da estrutura
que guardas cheia de ciúmes:
nossos hábitos e costumes;
como se fossem só teus.
Mãe:
a glória infinda dos meus:
ancestrais e descentes,
resultado das sementes,
aqui plantadas por Deus.

Mãe
Mês de maio, mês das noivas,
a cor da paz na consciência,
repasso nas tardes goivas,
à luz da minha existência:
tua candura, a inocência,
o ser do meu querer bem.
Mãe:
Contigo aprendi também,
sem tecer loas, ou troféu,
contrito, alcançar o céu,
antes de dizer Amém.

Mãe:
Todos os dias são teus,
além da minha alegria
nos teus olhos, vejo os meus,
refletindo a poesia
que repito a cada dia,
lembrando a cada segundo;
que o meu desejo mais fundo
quando em festa o coração,
é ter a tua emoção,
como a razão do meu mundo.

Nh. casa do rio, abril de 2008

sábado, 5 de abril de 2008

Ao Limbo do Verso

Arabi Rodrigues
ao Tocaio Ferreira, em memória

Nico, o Tocaio Ferreira,
só foi à frente de nós,
venceu o tempo, este algoz,
de capuz e “carneadera”.
Mas deixou na “carretera”,
um rastro que ninguém apaga:
mais limpo, que fio da adaga,
mais puro, que as emoções,
cada uma de suas canções,
serve de prece e de guia,
pra quem co’a alma, alumia
a catedral dos galpões.

A chegada neste mundo,
traz muita alegria aos pais,
um alento pros demais,
que vivem meio injucundos;
daí por diante, os segundos,
vão descontando as auroras,
minutos, vencem as horas,
os dias, os meses, os anos;
até mesmo, o mais vaqueano,
não escapa da maneia,
“lá vem um dia”, que apeia
na frente do Soberano.

É sempre assim, a saída,
a notícia, salga o mate.
É princípio, ou arremate,
duma história conhecida?
A resposta é descabida,
ante a dor dum sentimento,
envolve conhecimento,
com raiz na antigüidade.
Conceitos, que na verdade,
depende de cada um,
que por simples, é comum,
conhecidos, por saudade!

O poeta é diferente,
renasce dia, após dia,
do ventre da poesia,
percorre o sub consciente,
e depois, quando experiente,
concretiza o abstrato,
pintando o próprio retrato,
co'as luzes do universo,
sem se dar conta, o disperso,
vai se reunindo e se aquieta
assim renasce um poeta
ao limbo de cada verso.

domingo, 23 de março de 2008

FLOR EM BOTÃO

Arabí Rodrigues
à Isabeli
Nego Marx, Jane, Isabeli,
teu pai, meu filho adotivo,
antes qu’outro revele,
vou alcançar-te o motivo,
ele, de pé no estrivo
pronto pra ir embora;
o poncho, o laço, as esporas,
chapéu de aba tapeada
e a decisão já tomada.
Por sorte cheguei na hora.

Primeiro, o “buenas” de sempre,
que acalma, afaga e arrebata;
depois, o símbolo da trempe:
a figura que retrata,
no elo de cada pata,
a Santíssima Trindade.
Já mais calmo, e, por vontade,
sentou-se num banco baixo,
ouvindo a voz dum riacho,
presente da divindade.

Daí por diante, querida,
“las cosas” foram mudando.
tu não sabes, mas, a vida,
é como rio, caminhando,
“despasito” vai quebrando,
os arroubos dum cristão.
Quem possui bom coração,
vê o mundo sem receio,
já no segundo passeio,
tava de rédea no chão.

Teus pais, irmãos verdadeiros,
de ser e querer fraternos.
Sempre dizem que os primeiros,
são os fogões dos invernos.
Benditos dias modernos,
que vais encontrar aqui.
O tempo, sempre guri,
a vida, moça guria;
no ventre da poesia,
um trono feito pra ti.

Isabeli, a tua vinda,
é uma dádiva de Deus,
por certo, será mais linda,
que os desejos dos meus;
quero ser mais um dos teus:
por apelido, Velhimho;
com ternura e com carinho,
a candura do meu verso,
no céu do meu universo
já és luz no meu caminho.

Nh. casa do rio, Páscoa de 2008

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

"Pingo" de Arreio - payada

Arabí Rodrigues
ao amigo Roberto Britto e família

“Então se buenas” Roberto,
Márcia, queridos, piasada,
daqui da pampa esverdeada,
a saudade, peito aberto,
faz o longe ficar perto;
quando sozinho mateio.
Sentado sobre o arreio,
deste “pingo” pensamento,
solto a voz à luz do vento,
e junto a vocês, apeio.

Ao sufocar o anseio,
que sufoca e acabrunha.
O meu verso é testemunha,
desta ausência, em nosso meio.
Muita chuva, arroio cheio,
sanga botando pra fora;
São Pedro arrastando a espora,
por sobre seu patrimônio:
nosso pago, nosso sonho,
que ilustra a payada agora.

Como sei que não vigora,
estes anseios profundos,
repasso todos meus mundos,
co’a luz de Nossa Senhora.
A saudade vai embora,
o bem querer é mais forte.
Quem sempre anda pro norte,
acaba chegando o sul,
quem pinta vida de azul,
não pinta o quadro da morte.

Este “pingo” de bom porte,
frente aberta e anca larga,
não sente o peso da carga,
quando chasqueado no trote,
é lindo ver o cogote,
tremendo sobre o granito.
Amanunsiei “solitito”,
“con a bendicion de Dios”
pra poder dizer depois:
“esse é a moda” Roberto Britto.

Nh. casa do rio, fevereiro, 05/08
Blog: arabi-rodrigues.blogspot.com

sábado, 19 de janeiro de 2008

Então se Buenas

Arabí Rodrigues
ao irmão Edson Dutra

Edson Dutra, doutor,
artista por vocação,
ponteiro da tradição
da terra do laçador;
ilustre, pelo valor,
que representas por nós.
Quando em silêncio e a sós,
mateando tranquilamente,
não sei porquê, de repente
ouço ao longe a tua voz!

Aquele “buenas” de quem chega,
dá oh-de-casa e apeia,
“se abanca” ao lado e mateia,
co’as luzes da deusa grega.
Uma garça, cor “matega”,
alça voou do meu peito,
corpeia o ar a preceito,
sob o azul do espaço
e à sombra de cada passo,
o sonho! Antigo e Aceito.

Já disse num verso antigo,
mas não custa repetir:
ensina quem sabe ouvir,
o coração dum amigo.
Assim, mateando contigo,
adornei a inspiração,
pra poder com emoção,
guardar comigo teu nome;
só pra ser Deus como homem
e mais homem como IIrmão

Nh. casa do rio, Natal de 2007

sábado, 29 de dezembro de 2007



poesia, canto e guitarra

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

A Mensagem -payada

Arabí Rodrigues
ao casal amigo Glênio e Tita Fagundes

Glênio Fagundes, irmão.
De fé e querer fraterno;
invoco o Patão Eterno,
num ato de contrição.
Do fundo do coração,
à frete de tua imagem;
afrouxo a voz, e a linguagem,
através da inspiração
se transforma em oração,
à luz da tua mensagem.

Gravada como quem manda,
um chasqueiro bem montado,
num zaino negro tapado,
cogote que não desanda
O recado, uma ciranda,
cheio de encanto e ternura.
Deus me deu esta ventura,
pra dizer de própria lavra:
que sorvi cada palavra,
com quem bebe água pura.

Mas, a vida é uma constante,
que não para e nem descansa.
O homem é sempre criança,
um sonhador, um andante,
em verdade, um ajudante
dos demais seres terrenos.
Numa gota de sereno,
pendurada no arame,
pode-se ver, num exame,
quão um gigante é pequeno.

Cada vez que desenfreno,
o medo de não ter medo,
o tempo mostra um segredo,
que guardo do Nazareno.
Todo o remédio é veneno,
todo veneno é remédio,
um amigo cura o tédio,
arrebata o desengano.
Como já disse o Caetano:
“o tempo, não tem saldo médio”.

Talvez por isso, sozinho,
duas horas da manhã,
à sombra do picumã,
no aconchego do ninho;
Possa dizer-te, “baixinho”,
que ninguém consiga ouvir,
estou aqui pra dividir,
o que recebi de Deus,
pra que eu seja um dos teus,
tenho muito o que aprender,
entre todos, o meu prazer,
é que tu, és um dos meus.

Um abraço fraterno

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Sentimentos Natalinos- payada

Arabí Rodrigues

Redepente a estrela guia,
resurge apontando o ninho,
e o ser do novo caminho,
do Carpinteiro e Maria.
Diante de toda a magia,
a figura de Jesus;
o rei da fé e da luz,
na Manjedoura encantada,
abrindo nova alvorada,
pro sacrifício na cruz.

Trinta e três anos terrenos,
amor, sermão e conselho,
pra depois, dobrar os joelhos,
ante a fúria dos tiranos
e a mais de dois mil anos;
do primeiro batistério,
pro segue o mesmo mistério,
co’a humanidade sofrida,
nos palácios desta vida,
Cezar, Pilatos e Tibério...

Por isso, agora reunidos,
vizinhos do mundo inteiro,
invocamos por primeiro ,
entre alegres e comovidos,
o Senhor dos nossos pedidos,
por quem sofrem fome e frio.
Tomara que o desafio,
leve o nosso bem querer.
Mais importante que ter
é ser o amor fraterno,
o antigo, é sempre moderno
ao lume dos sentimentos,
que o pálio destes momentos,
seja a mão do Pai Eterno!!!
Natal de 2007

Querubins da Raça Pampa- payada

Arabí Rodrigues
ao amigo Anônio Carlos de Alem Castro "katy"

Kati, meu irmão querido,
parceiro de poesia,
por sermos da mesma cria,
somos do "garão torcido",
de mais a mais convencidos,
qu'o longe não nos atinge.
A saudade, a gente finge,
que foi embora pra sempre,
a cuia, a chaleira, a trempe,
a palha, o fumo, a "solinge"...

Um mate feito a capricho,
um pito feitio caseiro,
a baforada e o cheiro,
da china, o nosso cambicho,
depois do velho cochicho:
"to te esperando meu nego",
surge a resposta: já chedo,
gostar de ti, é meu vício,
pro desafio do ofício,
vai ajeitando os pelegos.

Assim o tempo nos leva,
como tronco rio a "baxo".
Doze braças a bate cacho,
pro refugo dos malevas.
Quando a lua engole as trevas,
no altar dos sentimentos,
eu chego na voz dos ventos
que surgem do paraíso
pra vislumbrar teu sorriso,
co'as luzes do pensamento.

Podes crer, neste momento,
parado diante de mim,
consigo ver no sem fim,
o ser do teu firmamento.
À sombra de teu talento,
a minha musa se acampa,
reproduz a tua estampa;
à luz de campos em flores
teus versos, são meus amores
querubins da raça pampa.

Por fim, um abraço largo,
repete e bate outra vez,
sempre co'a mesma altivez,
de quem cumpre o seu encargo.
Agora, mais um amargo,
desses que alargam ternuras
e que adoçam lonjuras,
além dos meus universos.
Enquato tu lê meus versos,
salgo outra cevadura!!!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Dos Caminhos - Payada

Arabí Rodrigues
ao amigo: Argeu Soares dos Santos

"A ca me pongo a cantar,
las cosa de mil caminos";
porquê será que os meninos,
não param de caminhar?
Certamente, seu olhar,
é mais lampeiro que o nosso,
talvez, por isso retoço,
ao sorriso dum amigo,
querendo matear contigo,
"nuestros recurdos" adoço"।

Relembro, quando cantando,
nossos encontros fraternos,
de peleguear os invernos,
q'aos "poquitos" vão chegando.
Se alguem ouvisse escutando,
a conversa de nós dois,
comentaria depois,
estes gaúchos são loucos।
A mansidão cresce aos poucos,
como a pupila dos bois।

O tempo transforma a gente,
o saber permeia a alma,
a paciência pede calma
e a calma "alumbra" o presente!
"Mas un berso solamiente",
pra refresca o assunto,
"me agrada, quando pergunto",
a um amigo de verdade,
se por acaso, de balde,
um mate de "contra-punto?

Versos de Rimas Iguais - payada

Arabí Rodrigues

Quando a noite se debruça
no peitoril do poente,
“um cheiro de terra quente”,
sobre a vaidade escaramuça;
enquanto o vento soluça
lampeiro no campo aberto,
a lua, a céu descoberto,
“despacito” se aproxima,
como se fosse uma rima,
chamando outra pra perto.

Junto aos tições fogoneiros,
as cambonas balbuciam
orações que prenunciam,
o descanso dos campeiros,
ronco de mates caseiros,
aprumos de corda e voz,
cantigas chegando a foz,
dos sonhos durante o dia.
Nasce a nova melodia,
pr’um tuara cantar sós.

Da renda do picumã,
sob a quincha balançando
a emoção vai recordando,
desmanchos, promessas vãs.
juras de antigas manhãs,
no solstício do caminho,
quando a ilusão dum carinho,
nos diz tudo sem dizer,
afaga e faz esquecer,
que tempo anda sozinho.

Versos de rimas iguais,
acordes de mil floreios,
“contra-puntos”, bordoneios,
palavras, toques, sinais,
somente um degrau a mais,
e o saber mostra o segredo,
os homens perdem o medo,
o tempo tira o capuz,
a sombra não vê a luz,
por que Deus acorda cedo.

Tal pai, tal filho - payada

Arabí Rodrigues

Meu caro Celso Pitol,
parabéns pelo Celsinho.
O meu verso com carinho,
resguarda o fulgor do sol;
relembra no arrebol,
qu’a prataria da lua,
quando reflete flutua,
nos paredões da existência:
um filho, é a nossa consciência,
que tempo a fora continua.

Um “regalo” da chirua,
que agente escolhe pra si.
Pra que saia por ai,
lonqueando a verdade crua.
Galo, já nasce com pua,
o Celsinho tem nazarenas;
quando sacode as melenas,
à frente dum aporreado,
esgancha de carnal virado
pra delírio das morenas.

Assim, se livra das penas,
como o rio da água doce,
escrevendo, como se fosse,
várias tarcas de centenas.
“lo sangre pulsa las venas”,
como nas veias patrícias,
precisa calma e perícia,
pra retribuir a homenagem.
O requinte da linguagem,
fez o payador notícia.

Este querer sem malícia,
filho da honra dos pais;
faz-me vivo por demais,
um grau aquém da cobiça.
A vaidade se espreguiça,
o coração tironeia,
o pensamento clareia,
a voz da musa cantora,
minha eterna protetora,
que à tua frente se apeia.

Para dizer-te obrigado,
ademais, obrigado e meio!
Celsinho, do teu rodeio,
não tem um só, desgarrado,
todos de casco aparado,
tosados de gogutilho,
cebruno, baio, tordilho,
pelechando a tarde finda,
co’a marca da dona Linda
e o saber, tal pai, tal filho.
Nh. Casa do Rio, novembro 03/07

sábado, 3 de novembro de 2007

Ao Jayme Caetano Braum - payada

O papa dos payadores - em memória

Meu irmão de querer bem,
peço licença primeiro,
é o payador brasileiro,
que do pampa largo vem,
para mostrar o que tem
depois da última conquista.
No mundo tradicionalista,
alcançou o terceiro grau;
do mangrulho do Jarau,
a voz crioula farfalha,
a legenda da Medalha
Jayme Caetano Braum.

O motivo da honraria,
a quem de um modo, ou de outro,
tenha amanunciado potro,
entre o solo e a porfia.
A guitarra, uma guria,
filha da deusa pampiana,
retratando a quero-mana
nos requebros da cantiga.
A musa por ser antiga,
alcança métrica e rima
e o payador põe a estima,
a luz que nos interliga.

Nem todos que receberam
tiveram o mesmo privilégio,
de pertencer ao colégio,
aonde os pajés aprenderam.
Mas por certo mereceram,
pelo trabalho em defesa
da nossa maior riqueza:
bons hábitos e costumes,
que servem de guia e lumes,
aos povos do mundo inteiro,
é o gaúcho brasileiro
ante o altar dos perfumes.

Ao papa dos paydores,
Caetano Braum, poesia,
quem sabe, talvez, um dia,
quando o Senhor dos senhores,
proclamar nossos amores,
ao largo do infinito,
eu possa dizer contrito:
que fiz tudo quanto pude,
pra mostrar tua virtude,
aos que chegaram depois,
como solistas, nós dois,
somos sempre juventude...

domingo, 21 de outubro de 2007

Sonho de Céu e Terra

Sonho de Céu e Terra - payada
Arabí Rodrigues

Aqui estou novamente,
co’a deusa dos meus encantos,
entre os sonhos, que são tantos,
trago meu Ser do presente;
pra saudá-los comumente
deste mangrulho pampeano.
Meu verso, vento minuano,
que assovia nos oitões,
lembrando q’as emoções
arrebatam o Ser humano.

Neste contexto, a verdade,
assoma sobre a consciência.
O planeta pede tenência
e a ecologia piedade;
está faltando vontade,
dos que detém o “poder”.
Mais importante que ter,
é Ser um verso depois,
qu’o mundo enxergar nós dois,
lampeiros sobre o dever.

Proteger a fauna e a flora,
além dos quatro elementos,
fazer da Rosa dos Ventos,
o lume de nossas horas,
e do matiz das auroras,
copiar a monocrômica,
e depois, com galhardia,
alcançar à juventude,
um exemplo da virtude
de quem foi mestre algum dia.

Não espere pelos outros,
tire um rumo e vá em frente,
o mundo precisa de gente,
co’a liberdade dos potros.
Diante tantos alvorotos,
muitas vezes me pergunto:
pra que “sirve lo contra-punto”
desses “brabos” meio loucos;
que matam morrendo aos poucos,
ao lado de outros defuntos!!!

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Marcas do Tempo


Poesia, temas, hábitos e costumes dos gaúchos da grande Pampa.
Aborda, também, o cotidiano do povo que habita a "gran cuenca gaucha".
263pg. Pblicado em sépia. Ilustração, bico de pena, de Glênio Fagundes .
Valor 30,00.
Contatos pelo fone: (51) 35952712 ou pelo e-mail don-arabi-payador@bol.com.br

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Meu perfil – payada








Meu perfil – payada


Arabí Rodrigues

Então se “buenas” Brasil,
meus irmãos do mundo inteiro,
o payador brasileiro,
mostra aqui o seu perfil,
o maço, a régua, o buril,
instrumentos de trabalho;
não corto volta ou atalho,
para dizer o que sinto,
sou assim, morro e não minto,
pra defender o pelego,
me agrada quando um “achego”,
declama o verso que pinto.

Meu oh! de casa fraterno,
tem um sentido especial,
mostrar o tradicional,
como se fosse moderno;
a melena cor de inverno,
representa a experiência,
faz florescer a consciência,
à frente do mundo novo,
cheio de "blogs", retovo,
como emenda de soveu,
por entre a terra e o céu,
a inocência do meu povo!

Sempre bombeando a distância,
trago o passado nos tentos,
nas asa do pensamento,
o velho revive a infância,
e diante de tal circunstância,
o mundo fica pequeno;
numa gota de sereno,
a noite grande se esvai
como o “mardoso” Uruguai,
que desce campeando rumo,
tirando a vista do prumo,
ante os desejos do Pai.

Roda o mundo no espaço,
levando tudo por diante,
porque será que o petulante,
prefere o calor do aço?
Aqui, na curva do braço,
a "oito baixos" palpita,
enquanto alma crepita,
sob a luz do paraíso,
troco palmas por sorriso,
e sorrisos troco por palmas,
enquanto a musa se acalma,

vos entrego este improviso.